
[PT]
Este “não-futuro que a gente vive” - Al Berto (1989) em entrevista à Ler – é avassalador.
Nos dias que correm não há discurso sobre o Natal que não inclua a situação financeira, individual e/ou nacional. As entidades promotoras deste concurso não o ignoram quando constroem as bases para este concurso. Os criadores não o ignoram quando procuram fazer mais que em anos transactos, por muito menos.
No actual contexto social e económico, pensar a iluminação de Natal de uma das principais praças de Lisboa ignorando a realidade do país e as principais preocupações da esmagadora maioria dos cidadãos, é auto-desvalorizar o papel social de arquitectos e designers e, sobretudo, abdicar da sua importância na construção de soluções.

Photos by Zoraima de Figueiredo
*Nascido para isto
Dentro disto
Enquanto os moribundos sorriem
E a Dona Morte ri
E os elevadores caem
E as paisagens políticas se dissolvem
Nós
Nascemos para isto
Dentro disto
Dentro destas guerras cuidadosamente insanas
Da visão de fábricas com as janelas partidas para o vazio
De bares onde as pessoas já não falam umas com as outras
De lutas com punhos que acabam em tiroteios e facadas
Nascemos para fazer parte disto
***Para ouvir o terror através das paredes e caminhar toda a noite com os sapatos manchados de sangue
Para acordarmos embrulhados no vazio e na falta de memória
*Nascemos para isto
Aqui
Num país onde as prisões estão cheias e os manicómios fechados
Num sitio onde as massas promovem os idiotas a heróis ricos
Nascidos para isto
A caminhar e a viver através disto
A morrer por causa disto
Mudos por causa disto
Castrados
Escarnecidos
Deserdados
Por causa disto
Enganados por isto
Desprezados por isto
Levados à loucura e à doença por isto
Levados à violência
À desumanidade
Por isto.
Os dedos procuram a garganta
A arma
A faca
A bomba
Os dedos estendem-se em direcção a um deus irresponsável
Os dedos procuram a garrafa
O comprimido
O pó
***E o eco repete
Até aqui tudo bem
Até aqui tudo bem
Até aqui tudo bem
E eu
Em queda lenta
Em tortura lenta
Com o vento a gritar-me ódio aos ouvidos e a espernear como um cavalo alucinado em direcção ao abismo
Lá em baixo
Vê-se tão bem daqui
Ruas pavimentadas a sangue
Cabeças partidas
Braços e pernas partidos
Dentes em cacos
Nada para a frente
Para trás
Para a frente
Para trás
Para trás
Para trás
Para trás
A repetição repete a repetição
A repetição torna a memória volúvel como uma droga monótona
Há muito que perdemos a nossa inocência etc etc.
**Eu vi os melhores da minha geração destruídos pela loucura.
***Vê-se tudo tão bem daqui.
Cães uivam
Mulheres no deserto
Uma vida de aventura com estrelas em carros, luas românticas de mau gosto e toda essa morte amor e armas de Hollywood a desaguar dos cinemas em reposições contínuas
Violência
Púrpura
Branco
Há muito que perdemos a nossa inocência.
Entre nós
Respeito nenhum
Entre nós respeito nenhum.
Uma vida de aventura em breve aqui.
Aqui espera-se.
Dia após dia
Novas fornadas de crédulos
Anjos em elevadores
Ferozes como a merda de um deus pagão esquecido combatem o ar imóvel
Nem sangue nem satisfação.
Não peguem fogo a tudo
Não peguem fogo a tudo sem mim.
Aqui
Portas fechadas
Janelas fechadas
A mobília disposta
Para um maior conforto
Cada um com o seu lugar
No seu lugar
Aqui
Longe do caos.
Ninguém sai
Ninguém quer sair
Tudo está à venda.
______
* excerto de Dinosauria We de Charles Bukowski
**excerto de Howl de Alen Ginsberg
*** Posso Pegar Fogo à Cidade, Mãe? de João Saboga
* e ** traduzidos do inglês por João Saboga

[PT] Nasceu e cresceu na Figueira da Foz. Estudou literatura, foi nadador de competição, trabalhou em escritórios, em armazéns de vinhos e fábricas de celulose, foi editor de fanzines, pescador em navios da pesca do bacalhau e letrista e cantor em bandas de rock’n’roll. Há já alguns anos que é tradutor, dramaturgo e actor profissional.

[PT] Formada em Dança pela Escola de Dança Ginasiano, através da qual realizou viagens de estudo, frequentando vários cursos de formação em: Paris, Bruxelas, Varsóvia, Kiev, Hungria, Tallinn e Nova Iorque. É finalista da licenciatura em Ciências da Educação na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto, já com estágio concluído na área da coordenação de Projectos artístico-pedagógicos, tendo neste âmbito publicado o livro "Educação pela Arte" (2001). Trabalhou com vários coreógrafos em projectos independentes, entre os quais se destacam: Ana D`Andrea, Ana Figueira, Ana Borges, Bruno Listopad, Jan Zobel, Marcelo José, Marisa Godoy, Peter Micheal Dietz, Pedro Carvalho e Viviane Rodrigues.
[ENG] From the 25th until 29th November, we will be at Rome for the exhibition and award ceremony of the architecture prize "Fondazione Franz Ludwig Catel 2011". Ateliermob has been the only non-italian team selected for the 2nd stage.